top of page

BLOG

Foto do escritorMadry Melo

Atemporalidade

Pela fresta da janela percebo que mais uma vez o dia amanheceu lá fora e de alguma forma, ainda não consegui dormir. Trêmula, me levanto e fixo meus olhos nus sob o céu infinito, cravando na minha pele o gosto amargo do verbo viver. Volto a me deitar e vez ou outra me reviro na cama, enquanto o sol bate na janela e os gatos se levantam e andam de um lado pro outro. A garrafa de vinho permanece intocada entre as pinturas que pendem em alguns lugares do quarto. Me dou conta que estive pensando em muitas coisas ultimamente, que há uma expressão, que gosto muito, chamada: Amor Atemporal.

O amor atemporal revela um amor único (por vezes descristo como eterno), que não pode ser enquadrado dentro de um conceito de tempo, ou seja, não pertence ao passado, presente ou futuro. E então me torno consciente das verdades unilaterais desses lugares cansados de existir, enquanto transito entre o agora e o depois, me permito sofre os baques que recebo vez ou outra num único suspiro. Enquanto a garrafa de vinho continua embaixo da mesa, os gatos brincam entre as pinturas. Por vezes, eles pulam em cima de mim, quase me matando de susto, pela explosão de risos que vem a seguir, sei que tudo isso, numa fração de segundos, logo acabará. Mesmo que ainda não saiba o que buscamos aqui neste mundo, tão pouco sei do que sou agora ou o que irei me tornar quando eu morrer.

Mais uma vez, frágil, me esforço para conseguir concluir a próxima respiração.

Aqui e agora, estou vivendo a busca frenética pelo encontro com o sublime, em mais um incontável dia na escuridão.


 
47 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Silêncio.

No silêncio toco Ouço, grito, insisto No silêncio suplico. No silêncio escuto As passadas, pisadas, batidas De um coração partido. No...

コメント


bottom of page